Quando os mais antigos moradores e os antepassados que já partiram falavam da enchente de 1941 como sendo uma grande catástrofe, os relatos assustavam, mas a grande maioria da população atual do Rio Grande do Sul não tinha noção real do que aconteceu naqueles tempos, por não ter vivenciado os fatos. Mas, em maio e junho de 2024, o passado se fez presente e o estado foi devastado pela maior enchente da história gaúcha, superando a de 83 anos atrás e deixando cicatrizes que o tempo não apagará.

Os estragos foram gigantescos, levando a Prefeitura a decretar estado de calamidade pública, com alguns bairros sendo severamente atingidos. Na Zona Sul, bairros como Ipanema, Guarujá, Serraria, Ponta Grossa, Belém Novo e Lami foram muito impactados, com residências sendo abandonadas por moradores que necessitaram buscar abrigo em outros locais. Muitas casas foram condenadas e os seus moradores, hoje, não têm mais para onde voltar. Outros, que teriam condições de retornar às suas residências, ainda pensam o que fazer, devido ao trauma. Apesar da elevação surpreendente do nível do Guaíba, que superou em muito os 5 metros acima do normal no auge da enchente, outras comunidades foram atingidas por alagamentos de bacias de amortecimento, arroios e outros cursos d’água. Relatos de famílias que literalmente perderam tudo se tornaram comuns no dia a dia.

Problemas como falta de energia elétrica, casas alagadas ou destruídas, protestos, falta de alimentos e outros itens para atender os desabrigados, incerteza sobre o paradeiro de familiares ou mascotes geraram um quadro de dor, indignação ou apatia, dependendo de como cada pessoa vivenciou a tragédia. A ajuda da sociedade civil foi rápida e emocionante, amenizando o desespero da situação, com entidades e pessoas físicas tomando a frente para colaborar como podiam, seja como voluntários ou arrecadando doações, que vieram não só dos vizinhos, mas também de cidadãos de outras cidades, estados e países. A solidariedade, desde o início da crise, vem sendo a tônica das ações, demonstrando que os cidadãos entenderam que, somente dando as mãos e ajudando uns aos outros, será possível sair dessa situação.
A resposta do poder público, com ações de emergência e os auxílios oferecidos pelo governo, nas esferas federal, estadual e municipal, conseguiram dar um alento aos atingidos, apesar da impossibilidade de recuperação total dos estragos com recursos públicos.

Ainda se falará muito da grande enchente de 2024, que certamente influenciará no imaginário gaúcho por gerações. A inundação não só impacta no presente como será decisiva para que a sociedade defina o futuro que deseja para a Zona Sul, Porto Alegre e o Rio Grande do Sul, além de servir de alerta para repensarmos, enquanto sociedade, o amanhã do planeta, de olho no futuro desta geração e das próximas que virão.
Se fossemos tratar aqui de todos os desdobramentos da grande enchente nestes primeiros 60 dias desde o início da inundação, uma edição inteira seria insuficiente, motivo pelo qual, seguiremos abordando este assunto nas edições seguintes. De antemão, cabe destacar que O Jornalecão estará de mãos dadas com os amigos moradores da Zona Sul para recuperar o nosso lugar em Porto Alegre, consciente de que sua missão – levar a informação local aos vizinhos e apoiar as ações comunitárias em sua área de circulação – ganhou agora mais um objetivo, colaborar na recuperação e reconstrução da região, com a certeza de que seguiremos juntos rumo a este objetivo.